São Pedro Pescador, padroeiro do Bairro Industrial e protetor dos pescadores da comunidade “Prainha”
O 29 de junho, Dia de São Pedro, é uma das datas mais festejadas no calendário junino em todo o Nordeste. Em Aracaju, não é diferente. No Bairro Industrial, em particular, ao Santo é reservado um apreço distinto. É lá que se encontra a "Paróquia São Pedro Pescador", padroeiro do bairro e dos pescadores. Pedro, um dos 12 apóstolos, é personagem central da famosa passagem bíblica em que Cristo pede a ele que lance novamente a rede de pesca ao mar, após um dia pouco produtivo. Quando o pescador finalmente obedece, encontra dificuldade para recolher a rede de volta ao barco devido à quantidade de peixe apanhada.
A escolha de São Pedro como padroeiro do bairro não foi por acaso. De acordo com o pesquisador Jorge Edson dos Santos, Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), no artigo "De Maçaranduba ao Bairro Industrial: a produção do espaço urbano e a luta pelo reconhecimento da comunidade tradicional da Prainha", o Bairro Industrial abriga uma das mais antigas e tradicionais comunidades de pescadores em Aracaju.
"O bairro se limita a leste com o Rio Sergipe, a oeste com o bairro Santo Antônio, ao norte com o bairro Porto Dantas e ao sul com o Centro", escreve o pesquisador. Segundo Jorge Edson, o trecho do rio Sergipe que passa pelo Bairro Industrial possui uma pequena vila que conta com a infraestrutura de dois estaleiros. "Espremidos ao fundo de uma garagem de uma empresa de transportes se encontra uma pequena comunidade composta por vinte e quatro famílias, sendo que dezesseis são cadastradas e registradas na colônia de pescadores Z-141. Esses pescadores(as)/marisqueiras vivem e fazem parte da cultura do Bairro Industrial há mais de 40 anos e são dependentes da pesca ribeirinha/artesanal ou vinculados diretamente às atividades correlacionadas, como o beneficiamento e tratamento de pescados...", diz Jorge Edson no referido artigo.
Paróquia São Pedro Pescador
A Paróquia São Pedro Pescador está localizada na Avenida João Rodrigues, no Bairro Industrial. Em 2024, completou 43 anos de instalação canônica. Ela foi inaugurada em 14 de março de 1981 pelo então Arcebispo de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte. No entanto, a comunidade religiosa existe desde a década de 70. Os frades da Colina do Santo Antônio, a exemplo do Frei Antônio Gois, assistiam a população da localidade. Falecido recentemente, já próximo do centenário de nascimento, o Frei teve papel de destaque na criação da paróquia. Neste mês de junho, vários eventos estão sendo realizados no local.
As celebrações tiveram início no último dia 21 de junho, na Paróquia São Pedro Pescador, com a realização de uma novena e prosseguem todos os dias até o dia 30, com missas, procissões, quermesses e apresentações culturais, como a feita pela quadrilha junina Século XX, atual campeã do concurso da Rua São João. Neste ano, os fiéis e devotos irão meditar sobre o tema "São Pedro Pescador, no Ano da Oração, ensina-nos a ser peregrinos da esperança".
Desde 4 de setembro de 2019, o padre Anderson Gomes está à frente da Paróquia São Pedro Pescador. Ele conta que as características culturais e sociais da comunidade do Bairro Industrial foram determinantes na escolha do local para instalação da paróquia e até na escolha do nome.
“Esse título de São Pedro Pescador é justamente por conta da característica do Bairro Industrial e pelo fato de a paróquia estar às margens do rio Sergipe”, afirma o padre Anderson. “A colônia de pescadores, que sempre existiu aqui por conta do rio Sergipe e da prainha do Bairro Industrial, influenciou inclusive no título. No livro de tombo, que registra a história da paróquia, as celebrações não eram no mês de junho, e sim no mês de fevereiro, quando se comemora a cátedra de São Pedro, uma data litúrgica que a igreja celebra em 22 de fevereiro. Depois de criada a paróquia, o padre Inaldo César, que foi o primeiro pároco, e o cônego Raimundo Cruz observaram o perfil cultural da comunidade de pescadores e transferiram a festa para junho, mês em que há a possibilidade de celebrar São Pedro e São Paulo, os santos que concluem esse ciclo junino”, complementa.
Pescadores da Prainha do Bairro Industrial
Às margens do Rio Sergipe, na Orlinha do Bairro Industrial, o pescador José Ginaldo Bispo dos Santos se reúne com um grupo de amigos - também pescadores - e discutem assuntos do cotidiano enquanto redes e canoas de pesca, atracadas por cordas em tocos de madeira, aguardam o retorno de seus donos ao trabalho.
O pescador José Ginaldo, que diz ser mais conhecido como Nado, trabalha com a pesca há 40 anos no Rio Sergipe e faz parte da colônia de pescadores do Bairro Industrial. Ele relata tempos difíceis para os que vivem da pesca naquela região e devota a São Pedro a esperança de um futuro melhor. “Pedimos sempre a ele que nos ajude a pegar o peixe, a ter saúde. A vida de pescador é sofrida. O peixe tem diminuído com o passar dos anos. A população cresceu, o desemprego também, e com isso apareceu muito pescador. O número de pescadores triplicou e a quantidade de peixe acabou diminuindo”, declarou José Ginaldo. “Sempre que tem procissão aqui no Bairro Industrial participamos. Alguns pescadores soltam fogos, apesar de muitos não terem condições financeiras de comprar fogos, fazem um esforço. A fé em São Pedro é forte, é o nosso padroeiro que sempre nos traz uma esperança”, afirmou o pescador.
São Pedro e o exemplo para os dias atuais
O padre Anderson destaca o legado e a mensagem que São Pedro deixou para os fiéis e o trabalho desenvolvido pela paróquia com a população mais carente, por meio de ações como a “Sopa Solidária” e o projeto “Banho para Todos”, que atendem pessoas em situação de rua.
“A humanidade precisa redescobrir o valor da fraternidade. Respeitar a diversidade, respeitar as pessoas em sua dignidade humana. Olhar para Pedro apóstolo, Pedro pescador, remonta nossa história. A história de nossa família, de nossos pais, das pessoas humildes, operários, pessoas comuns. Precisamos redescobrir o valor da família. O mundo está passando por várias tempestades, crises de democracia, de relações humanas, de tantos extremismos. Podemos ser capazes de saber tudo, dominar várias teorias, mas se não formos capazes de entender a alma humana não teremos feito nada no mundo. A grande mensagem de São Pedro como apóstolo e pescador é a redescoberta da fraternidade e do respeito”, concluiu o padre Anderson.