Presidente da Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba denuncia ameaças e reivindica atenção à causa extrativista
O espaço ‘Tribuna Livre’, da Câmara Municipal de Aracaju (CMA), recebeu representantes da Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luiz Lemper. O tema em pauta foi o decreto 6.175 de 02 de julho de 2020, que criou a unidade de conservação na modalidade reserva extrativista, no bairro Santa Maria.
A presidente da entidade, Maria Aliene, utilizou a tribuna na manhã desta terça-feira,26, com uma carta aberta em defesa da proteção dos territórios e modos de vida dos catadores de mangaba da associação, cujo trabalho de coleta da mangaba compõe mais de 65% da renda das famílias da localidade. Segundo o documento, em 2019, parte dos territórios foi doada pela União para a prefeitura de Aracaju, que, à revelia, a transformou na ‘Reserva Extrativista Mangabeiros Irmã Dulce dos Pobres’.
“Fizeram uma lei dizendo que estavam fazendo uma reserva protegendo a natureza, que estava intacta, protegida por seus extrativistas que estavam lá há mais de 80 anos. Em cada fala do prefeito, quando ele diz que dará a reserva para o povo, populares passam lá e nos insultam, ameaçam, dizem que isso é da prefeitura e então entram, pegam as mangabas e destroem a reserva”, disse a presidente.
Maria Aliene também criticou a construção de um complexo habitacional na região. Ela ainda cobrou uma homenagem ao ex-presidente da associação, Uilson de Sá, que foi encontrado morto em casa, em novembro de 2022. Ele recebia acompanhamento individualizado por parte da polícia, por fazer parte do Programa de Proteção a Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH).“Eu gosto muito de Irmã Dulce, mas a reserva deve ser chamada missionário Uilson de Sá, é a ele que devemos homenagear, ele lutou até a morte para defendê-la”.
O que disseram os vereadores
Breno Garibalde (União Brasil)
" É muito triste ouvirmos isso mais uma vez. Que desenvolvimento é esse em detrimento do meio ambiente, a zona de expansão passar por isso diariamente, o meio ambiente sendo destruído. É muito triste ver o rumo que a prefeitura está dando para vocês. Aquela era a única região que tinha para construir moradia? ”, questionou Breno.
Ricardo Marques (Cidadania)
" Ontem essa carta aberta foi lida aqui na Câmara, discutimos muito esse assunto, essa questão dos catadores e catadoras. Aquele empreendimento Irmã Dulce está sendo discutido há três anos, o prefeito empurra com a barriga essa questão há 3 eleições. Ele está acabando com o emprego, com a saúde e educação. A senhora trouxe uma frase impactante em seu discurso, ele está colocando pobre contra pobre. Será que não há outros locais para construir casas populares", também indagou Ricardo.
Isac Silveira (PDT)
"Nós acompanhamos de perto a luta dos catadores de mangaba e entendemos claramente que essa pseudo concessão não foi fruto de ação deliberada do prefeito. Foi imposição da luta de vocês e da procuradoria da República. Se há uma capital no brasil que o meio ambiente é desprezado, ela é Aracaju. As ações nesse sentindo inexistem. Não há projeto. O rio Sergipe está poluído, a Jabotiana toda está sendo desmatada”.
Elber Batalha (PSB)
" Aracaju é uma cidade belíssima, mas essencialmente 50% foi construída destruindo o meio ambiente. Uma pesquisa nos mostra que Aracaju acabava na Augusto Maynard, o resto era manguezal. A história envolve uma nova quadra em que a consciência ambiental se impõe à pratica. Eu vi candidaturas sendo preteridas e outras apoiadas por interesses da construção civil. Acredito que esse parlamento pode contribuir, desenvolver uma sessão especial com os órgãos das prefeituras sobre a exploração sustentável da mangaba, algo do pertencimento do aracajuano”.
Emília Corrêa (PL)
“A senhora se coloca à frente da defesa do meio ambiente e vive isso no seu dia a dia. Sabe muito mais do que muitos que foram diplomados. A senhora sabe o que significa as mangabeiras. Isso nos constrange, vemos uma gestão insensível, que despreza porque há outros interesses”.
Sônia Meira (PSOL)
" O que Aliene faz aqui hoje é uma denúncia muito grave sobre a destruição ambiental e de todas as vidas que ali já foram destruídas. Naquela região onde os imóveis foram construídos existia uma mata, com várias espécies, foram mais de 400 pés de mangaba devastados. Aliene denuncia que a vida humana continua em perigo. Faço um apelo à Câmara a apoiar as catadoras de mangaba. A prefeitura rifou a única reserva urbana”. Vamos lutar para que o governo federal assuma essa reserva de volta”.
Ao final dos apartes dos parlamentares, a presidente da Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luiz Lemper, Maria Aliene, reivindicou aos vereadores: "Não fiquem de braços cruzados, não adianta reconhecer e não fazer nada; não é algo para amanhã, é urgente que a área seja entregue de volta aos extrativistas. Até o momento, o prefeito nada fez, ele só destruiu", concluiu.