O despertar de Sergipe: Da subordinação à independência

por Mônica Pena — publicado 05/07/2024 16h21, última modificação 05/07/2024 16h21
O movimento emancipacionista e a formação de uma nova identidade
O despertar de Sergipe: Da subordinação à independência

Kevin Ismerim

No dia 8 de julho de 1820, há 204 anos, os sergipanos receberam a tão aguardada Carta Régia do Rei Dom João VI, que oficializou a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. Este marco histórico foi o resultado de intensas lutas e negociações políticas conduzidas pela elite sergipana, que almejava maior autonomia administrativa e econômica para a região. A independência do território sergipano não apenas simbolizou a ruptura dos laços políticos com a Bahia, mas também inaugurou uma nova era de desenvolvimento e identidade própria para o estado de Sergipe.

A emancipação política de Sergipe é um marco importante para os sergipanos. Este evento não apenas alterou a geopolítica regional, mas também fortaleceu a identidade cultural e política de um povo que buscava autonomia, como explica Terezinha Alves de Oliva, historiadora, professora emérita da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e oradora do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). “Havia um comportamento dos habitantes de Sergipe, que era uma capitania que não se conformava com a dominação da Bahia. A emancipação é exatamente este corte da subordinação em relação à Bahia. Ela representa o começo da nossa história como unidade política. A partir da emancipação, Sergipe passa a ter uma identidade política, um governo próprio, pode cobrar tributos e vai tomar conta dos interesses da sua economia e que se constitui com uma cultura própria”, ressalta Terezinha.

 

Antecedentes Históricos

Sergipe inicialmente uma capitania subordinada à Bahia, possuía uma economia fortemente baseada na agricultura, com destaque para a produção de açúcar e algodão. No entanto, apesar de sua contribuição econômica, Sergipe sofria com a falta de autonomia administrativa e financeira, sendo dependente das decisões tomadas pela capitania da Bahia.

No final do século XVIII e início do século XIX, a região começou a se desenvolver e a crescer em importância, tanto econômica quanto populacionalmente. A elite local, formada por proprietários de terra e comerciantes, começou a se organizar e a exigir maior autonomia política e administrativa. Esse desejo por autonomia se intensificou com os movimentos de independência que ocorriam em outras partes do Brasil e do mundo, influenciando a mentalidade local.

 

O Movimento Emancipacionista

O movimento emancipacionista em Sergipe foi impulsionado por uma série de fatores, incluindo a insatisfação com a administração baiana, o desejo de maior controle sobre os recursos locais e a influência dos ideais independentistas que se espalhavam por todo o Brasil.

Após várias discussões e negociações, no dia 8 de julho de 1820, o Reino de Portugal assinou o decreto que elevava Sergipe à condição de capitania independente. Este ato oficializou a autonomia administrativa e política de Sergipe, permitindo que a região pudesse governar-se de acordo com suas necessidades e interesses.

 

Consequências e Impactos

A emancipação de Sergipe teve impactos profundos para a região. Permitiu uma maior autonomia na gestão dos recursos e na tomada de decisões, promovendo o desenvolvimento econômico e social da região. A grande importância da emancipação além da constituição da unidade política, dos interesses específicos da economia, foi ter constituído uma identidade cultural. “Nossa cultura tem aspectos bem próprios, originais, tudo isso constitui a nossa identidade. Por isso, é tão importante comemorar esta data. Ela lembra a comunidade sergipana que somos uma unidade, e que isso foi conseguido com muito esforço, com sacrifício dos nossos antepassados e que lembrar isso é importante para a sociedade hoje”, explica a professora Terezinha Oliva.

 

História e legado

O “Álbum de Sergipe 1920", de Clodomir Silva, estudioso da cultura e história do estado, oferece um resumo da vida sergipana um século após a emancipação, com fotos das cidades, atividades econômicas e vegetação. Publicado originalmente para apresentar todos os municípios da época, foi reeditado pelo IHSE em 2020, no centenário da emancipação, destacando-se como um importante documento histórico. “Ele pretende ser um resumo do que seria a vida sergipana um século depois da emancipação, com fotos das cidades, das atividades econômicas, da vegetação. É uma fonte de estudos muito importante. O IHSE mandou reimprimir, em 2020, no centenário da emancipação, o álbum para lembrar esse importante documento do primeiro século da nossa história”, destaca a historiadora Terezinha Oliva.

Por outro lado, a Terezinha lamenta que poucos conheçam a história de emancipação do estado. “A falta de conhecimento do processo da independência de Sergipe, faz com que as pessoas não tenham muita memória da nossa emancipação política. O hino sergipano, por exemplo, é o mais antigo símbolo da memória sergipana e pouca gente canta. E ele fala da emancipação o tempo todo. Ele chama o sergipano para festejar o dia brilhante, o dia 8 de julho de 1820. E por que é um dia brilhante? Porque trouxe o sol da liberdade, da independência pra Sergipe”.