Mulheres negras sergipanas exigem melhores condições de vida
Na última segunda-feira, 11, o Plenário da Câmara Municipal de Aracaju (CMA) foi ocupado por mulheres negras sergipanas de diversas frentes de luta do estado, com pautas que vão desde a luta por moradia, por cultura, pelo desencarceramento e principalmente por uma vida digna, com direitos e de qualidade para todas/os/es.
A audiência pública “25 de julho Dia Municipal da Mulher Negra Rejane Maria – Diagnóstico da situação das mulheres negras em Aracaju” foi uma iniciativa da vereadora Linda Brasil (PSOL), e reuniu diversas perspectivas sobre a realidade da mulher negra aracajuana.
Estiveram na mesa a jornalista Wanessa Fortes (MNU), a defensora pública do município Dra. Carla Carol, a assistente social Carol Trindade (UNEGRO), a Yalorixá Lígia Borges (REMA) e as vereadoras Linda Brasil e Ângela Melo (PT).
Para a defensora pública, Dra. Carla Carol, a discussão da situação da mulher negra é urgente, uma vez que estão em maioria em situação de rua, e as políticas públicas são insuficientes para mudar esse cenário. Abordou também o índice de violência e feminicídio dessa população, que vem crescendo vertiginosamente sem que haja uma ação mais efetiva do poder público.
Já a jornalista Wanessa Fortes, ressaltou como o racismo institucional vem contribuindo para a invisibilidade de mulheres negras nos espaços de poder e no mercado de trabalho, relembrou dos seus primeiros desafios para a inserção em um estágio. “Quando eu era estudante, minha mãe ficou na porta da prefeitura de Belo Horizonte, até conseguir um estágio pra mim, ela ia todos os dias. Lembro que quando ela conseguiu, uma das primeiras coisas que falaram pra mim foi prenda seu cabelo”.
Para a militante, é necessário que haja uma prática antirracista, e que deve vir de pessoas brancas principalmente a responsabilidade de transformar essa realidade. Outra questão trazida por ela, é o acesso às políticas de saúde mental, uma vez que ainda é difícil o acesso a medicação nas Unidades Básicas de Saúde.
A participação de mulheres negras que atuam no município há décadas foi fundamental, a Yalorixá Sônia Oliveira, integrante da Sociedade Omolayie e Comunidade Oju Ifá, retomou a importância da atuação dos movimentos de terreiro nos períodos mais difíceis do país.
“Em pleno o momento de ditadura do Brasil foi uma yalorixá que conseguiu chegar para o presidente e colocar uma lei, a primeira lei de combate ao racismo afro religioso”, lembrou a Yalorixá Sônia Oliveira.
Ana Paula, do Coletivo de Mulheres do Reaggae, emocionou a todas/os as/os presentes ao falar do seu convívio com Rejane Maria, referência de luta das mulheres negras de Aracaju, e que dá nome ao Dia Municipal da Mulher Negra. “Quando eu canto hoje, quando eu subo no palco, eu lembro dela”, falou.
Para Linda, a Audiência Pública cumpriu o objetivo de fazer um diagnóstico da realidade de mulheres negras, e que a partir do que foi trazido pelas especialistas e pelas organizações, é possível encaminhar as demandas aos órgãos da prefeitura responsáveis pela efetivação das políticas.