Linda Brasil participa de mesa na VIII Semana da Visibilidade Trans

por Assessoria de Imprensa da paramentar — publicado 28/10/2024 07h00, última modificação 29/10/2024 16h48

Tradicionalmente o movimento trans e LGBTQIA+ sergipane realiza a Semana de Visibilidade Trans, atividade de grande importância para o enfrentamento à transfobia, e que já está na sua 8ª edição. Esse ano trouxe o tema “Meu Corpo, Meu Lar: Corporeidade e Interseccionalidade”, realizado pela Amosertrans, com apoio da Antra, Casamor, Mandata de Linda Brasil, Gaymado Aju e outros.

Na última sexta-feira, 28, às vésperas do Dia da Visibilidade Trans, a vereadora Linda Brasil (PSOL), participou da mesa “Antagonismo e Representatividade”, que contou com a participação de Margô Faber, Carolina Iara e Geovana Soares.

Nesse segundo dia da Semana, Geovana Soares, transativista feminista, abriu a mesa ressaltando a importância do tema e observando a importância da atividade remota, uma vez que a pandemia está com novo pico de contágio. Margô, a primeira palestrante, é travesti sergipana, multiartista, designer, tem sua atuação voltada para a inclusão de pessoas trans na tecnologia e pelo veganismo político.

“Alguns ataques que estamos recebendo vem de dentro da própria esquerda, e aí eu queria citar como exemplo do antagonismo, já entrando na pauta, como é o caso do TERF, que é o movimento feminista radical transexclusionista, que a partir do determinismo biológico permite excluir trans e travestis”, afirmou

Margô também trouxe como exemplo a fala da escritora J.K. Howlling, que escreveu os livros de Harry Potter, admirada mundialmente, e ao fazer uma fala criminalizando corpas trans e travestis, ela coloca todo um segmento na mira de ataques.

Participou da mesa também a co-vereadora Carolina Iara (PSOL), travesti, mulher intersexo, cientista social e militante a favor dos direitos das pessoas que vivem com HIV.

A parlamentar iniciou sua fala refletindo sobre o controle de corpas que fogem da normatividade, e como esse controle é violento, como as mutilações em corpas intersex. “Com as mudanças no meu corpo, eu só fui encontrar acolhimento com as travestis, elas entendiam o que eu estava passando. Quero começar falando dessas alianças”, colocou.

Iara ressaltou como o acolhimento e a aliança fortaleceram ela, e como aos 18 anos ela sentiu o primeiro antagonismo, que foi o mercado de trabalho formal. Como diante de todo um cenário de exclusão de pessoas trans e travestis desses espaços de trabalho, a prostituição acaba sendo uma via de sobrevivência.

“São os antagonismos que fazem, junto com a violência da cisgeneridade, principalmente dos homens cis, de querer nos consumir enquanto corpo, querer nosso corpo sexualmente e depois matar, tudo isso, é esse antagonismo que faz a gente ter 35 anos de expectativa de vida”, abordou.

Por fim, a ativista finalizou trazendo um pensamento de bell hooks para ilustrar sobre como as trans e travestis tem conseguido resistir e ultrapassar algumas barreiras impostas pelo antagonismo. “A gente precisa usar de ética amorosa e ação coletiva, e também de amor próprio, para lutar contra a opressão, lutar com o racismo, lutar contra o cissexismo, lutar contra o capitalismo, para de fato a gente conhecer o amor. E não o amor romântico, mas o amor pleno, o amor comunitário”, explanou.

Geovana Soares trouxe os dados atualizados da ANTRA, onde consta que no ano de 2021, 140 pessoas trans e travestis foram assassinadas, desse número a maioria são mulheres trans e travestis, e apontou a gravidade desses dados, que só refletem como os antagonismos funcionam numa perspectiva de extermínio da população trans e travesti.

A parlamentar Linda Brasil, primeira mulher trans eleita a vereadora, mestra em educação e uma das fundadoras da Semana da Visibilidade Trans. A vereadora saudou toda a mesa, e iniciou sua fala retomando pontos importantes do debate sobre os antagonismos e a superação deles para que a população trans e travesti possam viver com dignidade. “Nós queremos estar bem, queremos ser felizes. Estar bem emocionalmente, fisicamente, psicologicamente e de todas as formas. Quando as pessoas tem medo da gente, quando elas se sentem incomodadas, isso reflete que elas também não estão bem consigo mesmas, nós temos o privilégio, apesar dos vários sofrimentos, de estarmos bem, de escolhermos nossos nomes, decidir sobre nossas vidas, sobre nossas corpas, isso incomoda essas pessoas que não conseguem romper essas imposições de gênero e outras formas. O sistema quer o auto-ódio entre nós, mas nós vamos cada vez mais nos unir, nos amar e cuidar umas das outras”, destacou.