Em Audiência sobre a contribuição de Paulo Freire, Linda reflete a importância do esperançar
O educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira e ícone de enfrentamento às injustiças sociais, completaria 101 anos se vivo estivesse. Essa referência nacional e internacional deixou um amplo legado para todas/os aquelas/es que sonham com uma educação acessível a toda a população, transformadora, crítica e a serviço da transformação social.
Diante da sua importância na sociedade brasileira, a Câmara Municipal de Aracaju realizou a Audiência Pública “A atualidade do pensamento de Paulo Freire: Construção de uma Educação como Prática de Liberdade”, de autoria do vereador Sávio e da vereadora Ângela Melo (PT). Para contribuir com as reflexões, as professoras Sandra Beiju (vice-presidente do Sindipema), Ana Lúcia e Marilene Santos (professora da UFS) foram convidadas para trazer a trajetória do pedagogo pernambucano.
Sandra abriu a audiência homenageando uma criança vítima da meningite e que era estudante de uma escola pública municipal. A professora faz um alerta em relação às condições da saúde pública no município. “Sabemos que a perda da vida de uma criança se dá também pelas condições precárias da saúde, o atendimento demorado, que foi o caso de Miguel, que chegou no atendimento do Hospital Municipal Fernando Franco e, mesmo sendo detectado no sangue que ele estava com a bactéria na corrente sanguínea, ele foi mandado de volta para casa e só piorou, quando retornou ao hospital foi entubado e de lá não saiu mais”, relatou.
Sandra ainda informou as diversas vezes que foram solicitadas ao prefeito Edvaldo Nogueira melhorias nas escolas, e que não foram atendidas. “Falta democracia na elaboração das políticas educacionais vigentes, quem conhece a rede municipal sabe que temos escolas que são caixas de cimento”, denunciou.
“Queria terminar dizendo que nessa primavera o amor vai vencer o ódio e as mentiras nesse país”, concluiu
A vereadora Linda Brasil (PSOL) parabenizou a iniciativa da audiência e a importância da discussão, principalmente no contexto político que o país está vivenciando.
“Gostaria de parabenizar essa audiência tão importante nesse momento tão difícil. Nesse momento, nessa presidência do Brasil, infelizmente, um dos projetos é que o povo deve obedecer. O projeto de dominação é obedecer esse modelo opressor, explorador e violento que está há séculos no poder. Então parabenizo a fala das professoras Sandra Beiju, Marilene e Ana Lucia, que falaram da importância da formação dos professores e professoras, que desperta o senso crítico da nossa população, na construção de um projeto de educação libertadora e para que nesse período das eleições, a população possa votar consciente”, colocou.
Marilene, professora da Universidade Federal de Sergipe, ressaltou a importância da formação de professores/as para uma intervenção real na sociedade, por meio de uma formação libertadora é possível concretizar uma sociedade mais igualitária. “A construção de uma política libertadora pressupõe pensar como a formação de professoras/es tem se constituído na atualidade. Essa formação pressupõe uma análise e intervenção na realidade, seja para manter os valores dominantes ou transformar esses valores”, afirmou.
A parlamentar e educadora, Linda Brasil, alertou sobre os perigos dos discursos castradores e dogmáticos, com viés moralista, quando afirmam defender Jesus Cristo, mas pregam o oposto do que o líder religioso propagava. “Usam Jesus Cristo, um dos maiores libertários que tivemos e o usam de forma perversa, para manter o poder. Então, enquanto a gente não ressignificar isso, o que é ser cristão, essa violência vai permanecer. Eu também falo de um lugar de ter sido a primeira mulher trans a ocupar o parlamento. Silenciam sobre a questão de classe, de raça, gênero e sexualidade. Isso causa a exclusão de muitas pessoas”, destacou.
Para Ana Lucia, também professora e ex-deputada pelo PT, é fundamental a importância da construção de uma nova cultura política, que não fortaleça as regras autoritárias e que não mantenha a classe hegemônica no poder. Também analisou as mudanças na história e a luta social a serviço das transformações, afirmando que, para as/os professoras/es acompanharem tais mudanças no ato de ensinar, é preciso que, enquanto trabalhadoras/es, estejam motivadas/os.
Linda analisou que, apesar do educador Paulo Freire não ter se debruçado sobre as questões de gênero e sexualidade, ele trouxe ferramentas fundamentais para questionar as estruturas de poder que mantêm as desigualdades. “ Usamos essa discussão que ele trazia para a nossa realidade de gênero e sexualidade. Esse projeto de dominação que tanto Paulo Freire questionava, quer que as pessoas vivam em caixinhas, do azul que é do menino e da rosa que é menina. Meninos e meninas não podem usar o mesmo banheiro? Como fazem em casa? Usar um discurso moralista para inviabilizar os direitos de pessoas trans, embasados num discurso de ódio conservador e que distorcem os ensinamentos de Paulo Freire”, dialogou.
Por fim, retomou os escritos de Paulo Freire para colocar a importância da esperança enquanto ação, enquanto prática para as transformações sociais e uma educação emancipadora.
“Que não mais usem essa educação castradora, e sim a libertadora. Que as pessoas possam esperançar, a partir da perspectiva Paulo Freiriana. As pessoas estão com medo do ódio, da fake News, mas, apesar disso, o amor e a verdade vão vencer. O conhecimento vai vencer a desinformação. E reiterando Paulo Freire, é preciso ter esperança do verbo esperançar, e não do verbo esperar. Esperançar é levantar, ir atrás, construir e não desistir, levar a diante, e juntar-se com os outros. É esse fazer de outro modo que transformaremos essa realidade. Que a população LGBT, mulheres, pessoas na periferia, negras possam esperançar”, asseverou.