Dia Municipal da Mulher Negra – Rejane Maria, é lei!
No mês da Consciência Negra, uma importante vitória foi alcançada pelo conjunto dos movimentos negros e de mulheres negras em Sergipe. O PL nº 57/2021 de autoria da vereadora Linda Brasil (PSOL) foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal de Aracaju e inclui no calendário oficial de Aracaju, o Dia Municipal da Mulher Negra - Rejane Maria Pureza do Rosário, a ser comemorado no dia 25 de julho.
A data já marca a luta histórica de mulheres negras no Brasil e no mundo, é o Dia Internacional de Mulheres Afro-latino americano e caribenhas e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, em homenagem a uma guerreira quilombola que lutou pela abolição e libertação da população negra escravizada.
Legislações como a 10.639/2003, que obriga que escolas e instituições de ensino trabalhem com conteúdos africanos e afro-brasileiros, tem o intuito de reorientar aprendizados que tem perpetuado o olhar colonizador. A perspectiva de pessoas negras sobre suas próprias histórias começam a ser contadas a pouco tempo, como coloca a autora Chimamanda Ngozi Adichie.
A iniciativa da oficialização do Dia Municipal da Mulher Negra, traz para a ordem do dia a importância e urgência do tema, de discutir a vida do segmento populacional mais subalternizado na sociedade, como aponta o Mapa da Violência e o Dossiê da Situação da Mulher Negra, organizado pelo IPEA.
“O dia da mulher negra - Rejane Maria Pureza do Rosário traz um ar de fortalecimento, esperança e empoderamento para nós mulheres negras sergipanas que estamos aqui todos os dias na luta contra o racismo, machismo e feminicídio. A aprovação da lei é uma vitória para população negra sergipana, e uma homenagem a todas nossas companheiras de luta que se foram e de alguma forma deixaram seu legado. Salve Rejane, grande mulher, guerreira,exemplo de luta e força de vontade”, declarou Lindiwe Makini.
Sua trajetória fez brotar, nesta capital, o Coletivo de Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria, que promove a troca de experiências entre mulheres negras sergipanas de vários segmentos sociais, estimulando-as a refletir e debater sobre a complementaridade de suas lutas e estabelecer redes de solidariedade para a atuação nas instituições e nos movimentos.
“É importante a aprovação pra nos dar representatividade e legitimidade diante da sociedade civil, pois somos mortas, invisibilizadas, massacradas, exploradas e sexualizadas diariamente. Mesmo não tendo garantia teremos esse apoio, que é o mínimo de reparação histórica”, lembrou Ana Cris, integrante da Rejane Maria.
Além do reconhecimento da importância da questão para tratar das políticas públicas para as mulheres negras, é também uma oportunidade de aprender sobre mulheres que fizeram história no município, a exemplo da grande militante Rejane Maria Pureza do Rosário.
A capoerista, fundadora da Associação Abaô de Capoeira, passou por movimentos como a Saci, a Unegro, a Sociedade Omolayiê e foi filha do Ilê Asé Opo Osogunladê e mãe de Lindiwe Makini.
Sua atuação, no Município, foi fundamental, em diversas frentes, como na valorização das culturas de matrizes africanas, direitos das crianças e adolescentes em situação de risco, equidade nas relações de gêneros e contra a intolerância religiosa. Rejane, que também era capoeirista e feminista, fora ardente defensora da leitura e educação e idealizou o projeto Ponto de Cultura Batuque de Angola, espaço para a comunidade do Bairro Industrial, cuja sala de leitura leva seu nome.
“É a partir destes marcos temporais que também se ganha visibilidade em outros dias. Se existe uma data para exaltar a luta e importância das mulheres negras, é para garantir e ampliar suas conquistas, mas também porque ainda há um contexto de muita violência e racismo, onde mulheres negras são as maiores vítimas. É por meio da instituição de uma data no calendário que movimentamos ações, atitudes, impactamos a cultura e também políticas públicas. A partir do calendário, estamos estimulando que a administração municipal incentive que seus órgãos e empresas públicas criem ações de incentivo e atuem de forma colaborativa com ONGs, Associações e grupos específicos, para inserir a discussão e problemáticas na sociedade”, refletiu Linda.