Dia da Consciência Negra aborda debate sobre fim do preconceito e combate ao racismo

por Acácia Merici, Assessoria de Imprensa do parlamentar — publicado 20/11/2017 07h15, última modificação 20/11/2017 18h08
Dia da Consciência Negra aborda debate sobre fim do preconceito e combate ao racismo

Gilton Rosas

Políticas Públicas de igualdade racial, a quebra de preconceitos e o combate ao racismo foram alguns dos temas debatidos na manhã desta segunda-feira, 20, na Sessão Especial pelo Dia Nacional da Consciência Negra, na Câmara Municipal de Aracaju (CMA). A solenidade foi fruto do requerimento de autoria do vereador Professor Bittencourt, líder do prefeito na Câmara, e contou com as presenças do ator e produtor cultura, Severo D’Acelino, a professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Maria Nely Santos, o promotor de justiça do Ministério Público Estadual, Luis Fausto Valois, a coordenadora do Movimento Negro (Unegro), Tatiana Menezes, o presidente da Academia Sergipana de Medicina, Paulo Amado, além de vereadores, estudantes, intelectuais, artistas e membros de movimentos sociais.

Para o vereador Bittencourt, tratar esse tema no Parlamento é uma obrigação. “Somos uma parcela da população absolutamente fragilizada por essa coisa mais abjeta que é o preconceito racial, que herdamos da escravidão, a mais absurda sujeição que um ser humano coloca em outro ser humano. Infelizmente, o Brasil foi o último país a abolir a escravidão. De forma lamentável, ainda absorvemos todas as formas de racismo e nas escolas, nas comunicações, nos poderes, isso ainda se reproduz. É preciso que se desconstrua a cultura do preconceito e da discriminação”, destacou.

Na Tribuna da Câmara, Bittencourt afirmou que é preciso fortalecer Políticas Públicas afirmativas para lutar por um Brasil mais justo e igualitário. O primeiro passo é vencer as barreiras do racismo. “Infelizmente, vivemos em uma sociedade tão racista que o cidadão que o pratica não reconhece que faz. O tipo de ‘cidadão ideal’ que a sociedade constrói não é negro: é branco. Percebemos, por exemplo, na maioria dos anúncios publicitários que, a figura apenas do branco. Aracaju parece até que vende apartamento para a Dinamarca ou Suécia, por exemplo. Na cabeça de algumas pessoas, o negro deve estar na escala social bem inferior. Não há igualdade, não há justiça, nem liberdade com tanta ignorância e discriminação reinantes e vigorosas que ainda existe. Queremos um mundo cada vez melhor”, afirmou.

Todos os convidados que prestigiaram a Sessão manifestaram a preocupação com o tema e a disposição de contribuir para superação de qualquer forma de preconceito e discriminação. A professora Maria Nely Santos fez um balanço histórico do movimento negro no Brasil e em Sergipe, contou um pouco da sua trajetória de luta e de vitória para se tornar uma respeitada profissional da história e da educação. “Em 1968, em plena vigência da ditadura no Brasil, nascia a militância negra em Sergipe. Todos sabemos e enfrentamos o dia-a-dia da discriminação, das violências e da marginalização em todas as graduações. Em Sergipe, temos negras e negros vitoriosos. O negro não deve pensar que o racismo nasce por ascensão social. Não foi fácil a caminhada, mas venci. Fiz três concursos para a UFS. Sergipe precisa venerar seus negros e se orgulhar de toda inteligência em levar o nome do estado por onde passa. É uma luta constante e nossa. Me emocionei pela homenagem nessa Sessão Especial, por lembrar de Bittencourt como meu aluno e por orgulhar pela linda trajetória dele enquanto negro, profissional, pai, esposo, filho e, agora, parlamentar”, comentou Maria Nely.

Maria Nely ainda destacou que a união entre as pessoas é o segredo para um mundo mais leve e igualitário. “Eu e Severo tivemos muitas discussões no percurso da vida e hoje estamos fortes. Que essa união sirva de exemplo. Que as pessoas do movimento negro não façam divisão. A divisão só favorece o outro lado. Na rua e nas ações, temos que ser unidos. Voltei para o movimento negro com a função de historiar. Não vamos acabar com o racismo. Mas vamos unir nossos corações e mentes, ter uma liderança negra no Brasil e massificar o movimento negro”, pontuou.

Severo D’Acelino lembrou de Jacinta Clotilde do Amor Divino, escrava sergipana que casou aos 14 anos e tornou-se senhora de engenho. “Sergipe tem o prazer e satisfação de ter o processo raro da figura de Jacinta Clotilde, que casou com o Cônego Azevedo, em Estância. Era escrava em uma sociedade onde todos eram analfabetos. Teve seis filhos e foi educadora de todos eles, que se tornaram professores, advogados, filósofos. O filho mais novo foi o soldado Francisco Camerindo, que lutou na Guerra do Paraguai e deu nome à nossa praça aqui em Aracaju”, afirmou.

O produtor cultural falou, também, da baixa estima de alguns negros diante da sociedade. “Temos um contingente enorme de população negra e que muitas vezes não é assistida. Nossa comunidade sofre com problema de baixa estima porque não tem referenciais. Hoje, nenhum adolescente quer ser negro em uma sociedade que não respeita a cultura negra, que mata o negro, que violenta o negro. Precisamos de reconhecimento que vai além do berço da nossa cultura. Todos somos afrodescentes, até os brancos. Não interpreto personagem negro: eu sou negro. Gosto de mostrar os símbolos da minha negritude onde quer que eu esteja”, declarou.  

A coordenadora da Unegro, Tatiana Menezes, usou a Tribuna para falar sobre os problemas do preconceito e as formas de vencer todas as barreiras. “Quando eu era mais nova, tinha vergonha da minha cor e do meu cabelo, diante de tudo que eu via em nossa sociedade. O tempo passou, comecei a ver e reconhecer a nossa beleza, passei a ver a história dos nossos antepassados e a agradecer o quanto somos agraciados por sermos negros, lindos, felizes, com uma cultura rica. A cada dia, temos que reconhecer os nossos valores. Sou linda, sou negra, tenho muito orgulho da minha história e da minha vida. Vale a pena seguir”, comemorou.

Para Ivânia Pereira, presidente do Sindicato dos Bancários, ‘o enfrentamento ao racismo precisa ser uma luta de todos. Os jovens negros da periferia são os que mais os que mais morrem e as mulheres negras são as que mais sofrem violência. É preciso dar visibilidade a esse pensamento no nosso cotidiano para que possamos exercer a cidadania. Somos contra todo tipo de preconceito”.

Os vereadores Isac (PCdoB), Iran Barbosa (PT), Fábio Meireles (PPS), Lucas Aribé (PSB) e Seu Marcos (PHS) prestigiaram a Sessão Especial.