“Viemos pedir o não silenciamento dos nossos tambores só pelo fato de não aceitarem a nossa existência”, afirma Josy Adhuma

por Agência CMA — publicado 05/11/2024 13h12, última modificação 05/11/2024 13h12
Espaço ‘Tribuna Livre’ recebe a vice-presidente do Conselho Municipal de Participação e Promoção da Igualdade Racial de Aracaju
“Viemos pedir o não silenciamento dos nossos tambores só pelo fato de não aceitarem a nossa existência”, afirma Josy Adhuma

Gilton Rosas

Na manhã desta terça-feira (05/11), o espaço Tribuna Livre da Câmara Municipal de Aracaju (CMA) recebeu integrantes do Conselho Municipal de Participação e Promoção da Igualdade Racial de Aracaju (Comprir), entidade vinculada à Secretaria Municipal da Família e da Assistência Social (SEMFAS).

 A vice-presidente do conselho, Josy Adhuma, utilizou a tribuna para discutir o tema: “Racismo e descaso com a população negra aracajuana, estrutura e funcionamento do Comprir”.

Na oportunidade, Josy iniciou a fala lembrando que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2024, realizado no domingo (03/11), teve como tema da redação 'Desafios para a valorização da herança africana no Brasil'.

“É muito importante esse dia na Tribuna Livre, depois de um tema tão esperado pelo nosso povo na redação do ENEM”, disse. “Isso está repercutindo negativamente entre aqueles que fizeram e fazem com que nós nos tornemos invisíveis na sociedade, ocultando toda herança trazida pelo povo africano para construção desse país”.

A vice-presidente do COMPRIR ainda questionou a eficácia da legislação brasileira, citando a ‘Lei Feijó’, promulgada em 7 de novembro de 1831, que foi a primeira lei brasileira a proibir o tráfico de escravos para o Brasil e a Lei Áurea, oficialmente Lei nº 3.353, assinada pela Princesa Isabel abolindo a escravidão.

“Buscamos uma forma efetiva de combater o racismo , não só com as leis, que no Brasil costumam não haver efetivação, a exemplo da Lei Feijó de 7 de novembro de 1831 que não foi efetivada no Brasil e tivemos que lutar para que no 13 de maio de 1888 pudéssemos ter um papel dizendo que estávamos livres. Mas livres de que? Livres das senzalas, das correntes? Mas aprisionados na marginalidade. A única arte marcial brasileira, a capoeira, ainda continua marginalizada, fora das escolas, relegada aos guetos ou então sediada por favores em algumas instituições escolares. A luta não é mais por igualdade, é por equidade”.

Josy fez um apelo aos parlamentares do município para o combate à discriminação racial e pediu reconhecimento aos povos originários.

“A Comprir vem pedir aos vereadores, à população, ao Estado, que nos fortaleça na luta no combate às desigualdades. Viemos pedir tolerância à nossa cultura e o não silenciamento dos nossos tambores só pelo fato de não aceitarem a nossa existência. Nossa cultura e identidade cultural têm que ser respeitadas. Não só nas ruas aracajuanas, mas nas instituições de ensino. Nossa sociedade tem que aprender qual é a herança africana que o Brasil tem. Quais são as heranças indígenas que existem nesse país”, afirmou. “Vamos todos juntos construir um lugar melhor para todos, independentemente de credo, de raça e gênero. E respeitando, sim, a individualidade de cada um. Porque igualdade não é equidade, e a luta hoje é sobre isso”, finalizou.

O que disseram os vereadores 

O vereador Elber Batalha (PSB) disse que “esse é um desafio extremamente significativo porque se criou uma barreira na história do nosso país. Era possível entender que, de certa forma, somos descendentes de portugueses e copiar o modelo europeu. E ,assim, não entender que nossas raízes,  nossa essência, nossa cultura vêm dos povos que nos deram origem : o negro e o indígena. Dentro dessa perspectiva, tenho certeza de  que nosso mandato está alinhado e colaborativo com a manutenção de nossas raízes”.  

Para o vereador Breno Garibalde (Rede) é muito importante que a Casa legislativa esteja aberta para receber as entidades e conselhos “para que a gente possa também encaminhar nossas emendas impositivas de forma correta. Não adianta essa valorização ficar só no discurso, precisa estar na prática em nosso dia a dia como parlamentar. Estamos tramitando o estatuto da igualdade racial que já foi aprovado na Assembleia Legislativa e espero que, em breve, seja aprovado em Aracaju”.

   A vereadora Sônia Meira (PSOL) evidenciou o mês de novembro como marco simbólico para luta concernente à questão racial. O Dia da Consciência Negra é uma data comemorativa que é celebrada em nosso país no dia 20 de novembro.

“É um mês muito simbólico para que possamos reforçar nossa luta diária para que se estabeleçam políticas públicas antirracistas”, afirmou. Penso que a sua representatividade pelo conselho traz para nós a responsabilidade de continuar na luta por políticas públicas efetivas. Políticas de moradia, de educação, de assistência social legitimas que possam atender principalmente a população de mulheres, mães solo,  mulheres negras.  Uma política de segurança pública preventiva, que respeite, educativa e não só punitiva”, declarou a parlamentar.      

A Tribuna Livre

A Tribuna Livre é o espaço reservado a cidadãos e entidades que desejam se manifestar a respeito de assuntos que interessem à coletividade, ou convidados que prestam esclarecimentos perante a Câmara Municipal. Na CMA, acontecem às terças-feiras, sempre depois da leitura do Expediente do Dia e antes do Pequeno Expediente.