“Arraiá do Arranca Unha”, expressão cultural que fortalece identidade e une comunidade do bairro Getúlio Vargas

por Ivo Jeremias - Agência CMA — publicado 14/06/2024 11h49, última modificação 04/11/2024 17h20
Concurso de quadrilhas local acontece desde a década de 1950
“Arraiá do Arranca Unha”, expressão cultural que fortalece identidade e une comunidade do bairro Getúlio Vargas

Isis Oliveira

É difícil não lembrar das quadrilhas juninas quando o assunto é São João. Em Aracaju, um dos mais tradicionais concursos de quadrilhas é o “Arraiá do Arranca Unha”, que surgiu nas ruas íngremes do bairro Getúlio Vargas e adjacências, nos idos dos anos 50 e 60, quando a festa tomava conta de ruas como as que circundavam a Praça Saturino de Brito.

Assim como a rua São João, o Arranca Unha é uma manifestação cultural essencialmente popular. Foram os moradores da região que deram inicio a festa com os primeiros concursos de quadrilha. O Idealizador foi o líder comunitário João Cruz.

Na década de 80, mais precisamente em 1986, o Arraiá passou a ser realizado no recém- inaugurado Centro de Criatividade, onde antes funcionava a caixa d’água do bairro, por isso muitos ainda chamam o local desta forma. O centro nasce em 1985 com o propósito de promover políticas públicas voltadas para a esfera cultural, educacional e esportiva na localidade, que abriga a comunidade quilombola da Maloca há mais de um século.

 O Arranca Unha foi crescendo com o passar anos. Hoje ele é promovido pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap)  e conta com participação dos quadrilheiros envolvidos na produção de diversos aspectos da festa como: confecção de fantasias, elaboração das coreografias, composições , enredos ,marcação de palco e  montagem de cenários para apresentações.

O jornalista, professor e doutor em sociologia, Thiago Paulino, que é autor do livro Palco de Disputas e Disputas pelo Palco no 'País do Forró', explica a relevância desse arraial  para a comunidade do Getúlio Vargas e participantes.

“Uma das coisas mais fortes do São João sergipano são os arraiais comunitários que têm a sua expressão dançante nas quadrilhas juninas. Pessoas  se preparam o ano inteiro para  estarem ali em seus raros momentos de visibilidade. O trabalhador  que diariamente pega ônibus para  ir ao trabalho de madrugada vira  um marcador cheio de energia, conduzindo com animação um belo conjunto de pessoas.   A mãe  que estuda em escola pública se torna uma noiva bela; o mestre-de-obras  toca sua zabumba.  Os arraiais comunitários são historicamente o local do encontro,  da alegria de quem comemora a colheita farta após o mês chuvoso”, afirma Thiago Paulino.  

Segundo o sociólogo, a realização do arraial potencializa e fortalece os vínculos entre os moradores da localidade e contribui para o resgate e a  manutenção das tradições e identidade do povo das comunidades aracajuanas.

“O Arraial do Arranca Unha é fruto das tradições e dos encontros da antiga Caixa D'Água. Uma das figuras responsáveis era o Seu João da Cruz, liderança que juntava todos para  a festa.  Diga–se de passagem,  toda ação do Poder Público deveria fazer isso: potencializar os laços  culturais de cada comunidade.   Dançar  quadrilha não é só uma diversão, mas também integra as pessoas e fortalece o ‘estar juntos’.  Mesmo com a influência das Tvs e da cultura do espetáculo, as quadrilhas  e a espontaneidade  comunitária ainda se mantêm em muitos desses espaços:  pessoas torcem por suas quadrilhas juninas, se vestem, se reencontram e  mantêm vivas suas histórias. Toda aquela região do entorno do Centro de Criatividade é riquíssima em termos culturais:  forte tradição de quadrilheiros, de marcadores, que é passada de pai para filho por décadas.  Todo  sergipano deveria conhecer  arraiais como o do Arranca Unha que são um patrimônio vivo que ajudam a constituir as identidades de nosso estado”, conclui Professor Paulino.

Edição 2024

Neste ano, o concurso de quadrilhas do Arraiá do Arranca Unha começou no dia 05 de junho e prosseguiu nos dias 6,7 e 8. Ao todo, 18 quadrilhas participaram do concurso. Nas eliminatórias, foram formados três grupos, sendo cada um composto por seis quadrilhas juninas, que foram avaliadas por uma comissão julgadora composta por cinco membros, que observaram critérios como execução, dança,  figurino,  estética,  temática e  desenvoltura das quadrilhas. As notas foram atribuídas considerando o marcador, a harmonia do grupo, a animação, a originalidade, a valorização da cultura sergipana, a coreografia e o traje/figurino.

A final foi disputada no último dia 9 e as finalistas foram os grupos Amor Caipira, de Capela/SE, que trouxe um enredo sobre amendoins; Balanço do Nordeste, de Umbaúba, que abordou as manifestações culturais do Nordeste; Unidos em Asa Branca, de Aracaju, falando das marisqueiras; Raio da Silibrina, de Lagarto, retratando o cordel lampião; Rala Rala, de Maruim, com o tema turista do Rio de Janeiro se apaixona por sergipana; Século XX, de Aracaju, com uma homenagem à Rua São João. A  Balanço do Nordeste se sagrou  campeã com 99,7 pontos, um décimo a mais que a segunda colocada, a quadrilha Século XX.